domingo, 26 de maio de 2013

Previsível

"O sexo sempre muda tudo. É como se você estivesse vivendo dentro de uma bolha onde tudo é seguro, só paquera, e muitas vezes previsível. Uma atração pelo tipo certo de pessoa pode durar para sempre quando o mistério da intimidade é mantido intacto, mas assim que você dorme com alguém, a segurança, a paquera e a previsibilidade costumam de transformar nos seus opostos. A atração vai acabar, agora?
Ainda vamos nos desejar tanto quanto nos desejávamos antes de fazer sexo? E será que algum de nós não está pensando secretamente que cometemos um grande erro e deveríamos ter deixado tudo como estava? Não. Sim. E não. Sei disso porque sinto. Não é excesso de confiança nem o sonho iludido de uma jovem inexperiente e insegura. É um fato óbvio: Destino."

"Entre o Agora e o Nunca" - J.A. REDMERSKI

domingo, 19 de maio de 2013

Olhares para todo lado.

Olho para o lado e ele não está. Um arrepio subia em mim por achar que estava naquela casa vazia. O que poderia acontecer? Tragédia. Havia pouco tempo que tinha me "curado" da fobia de sair de casa. Tinha passado 2 anos trancada. Mas ainda nunca tinha saído sozinha.
Pensei comigo mesma que estava na hora de enfrentar aquele medo, afinal, o que seria pior - ficar ali sozinha ou sair sozinha? Considerei a segunda opção melhor por haver possibilidade de encontrar outras pessoas na rua.

Estava frio lá fora, bem frio. O que deixava as pessoas com caras tristes e desamparadas. De repente, me veio a cabeça tudo o que me assombrara nesses 2 anos e o que me fez ficar fóbica.

Era uma noite como aquela, eu estava passando na rua do Lavradouro e tive a sensação de estar sendo seguida. A coisa era rápida, tinha passos firmes, mas quando eu me virava para ver o que era, só via vultos. Começei a apertar o passo e ainda tinha sensação de que aquilo pegava meu ritmo facilmente.

E aconteceu, foi como um choque que percorria meu corpo todo, meu coração palpitava tanto que parecia que ia sair pela minha boca. Aquele carro todo preto parou do meu lado, e aquilo que eu achava que era um vulto, me tacou para dentro.

Lembro de ter acordado somente na noite seguinte, em momento algum os sequestradores falaram comigo. Até hoje não sei o que eles realmente queriam. Acho que era dinheiro. Pegaram minha identidade, fizeram algumas ligações.. Quando perceberam que eu não tinha um dote muito alto pra oferecer, talvez tivessem desistido.

Foi quando ele me olhou, murmurou alguma coisa para o cara ao lado. Então vieram os dois. Não sei como posso vir a descrever como foi a sensação, tudo me foi arrancado. Minha dignidade, minha sanidade, meu coração. Dentro de mim só havia raiva e desejo por vingança. Olhei bem  pro rosto de ambos e são rostos que eu tenho certeza que nunca esquecerei.

Aquele desespero que já me era conhecido subiu a minha cabeça novamente, começei a correr pela rua. As pessoas me olhavam preocupadas, mas eu não ligava. Logo cheguei naquele bar. Murmurei minha história em tons de desespero aos meus novos amigos, precisava desabafar. Ao final, tinham rostos de pena.

Foi então que fiquei vermelha e até roxa. Ele entrou. Depois de dois anos e milhares de lugares para ir, depois de superar aquela fobia. Ele entrou. Não pude me controlar, discretamente entrei na cozinha do bar, peguei um facão, me dirigi para atrás dele e...acabei com aquilo que me esfaqueava por dentro...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Tempo

A juventude é uma dádiva

Dádiva a qual eu me perco na esperança

Esperança de que o tormento sumirá

E essa esperança dá lugar à saudade

Saudade de tudo se esvairá

Ah, se eu pudesse tê-la

Querida juventude

Quem será que poderá?

Só sei que a ti não dou valor

Perdoe-me juventude

Mais um dia esperará...



Anna Taborda

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Velocidade do coração

Ando por aí e parece que toda vez que olho para alguma coisa, tem uma lacuna. Bem ali, onde você deveria estar. Isso não quer dizer que eu queria que você estivesse ali, as pessoas mudam, a vida me ensinou. Mas esse costume rotineiro me pega desprevenida algumas vezes, me dá aquele estalo: Cadê você? Nunca pensei que eu conseguiria apagar tudo. Me dá uma agonia gigantesca. Eu não tenho fotos, não tenho depoimentos, não tenho cartas, não tenho bichinhos de pelucia, não tenho roupas, joguei tudo fora juntamente com você. É estranho viver com uma lacuna. Ou melhor, era estranho. Depois de um tempo, mesmo sem perceber, esse espaço já foi preenchido. Onde ficava você e sobrava um espacinho, hoje transborda..
E então eu olho pra trás.. Eu sei que é feio se arrepender, não faz muito o estilo Carpe Diem, mas se eu pudesse, mudaria muita coisa, para evitar certas conseqüências. Mas é assim mesmo, vai acontecendo e quando você percebe que está fora do controle e resolve frear, você já bateu. E então você desmaia, fica apagada por um bom tempo.. Você faz uma cirurgia. Logo logo, você está no quarto, em recuperação. Então, muitos dias passam e vão passando lentamente.. E quando você começa a achar que não volta mais, seu médico te dá alta. Então, você entra no carro e começa a correr de novo..

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Texto de Caio Fernando Abreu



Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente? 
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muitomais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, decontinuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.
(Retirado do livro "Pequenas Epifanias") 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vivendo..

"Vou ensinar o que agorinha eu sei demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro !" Guimarães Rosa

domingo, 17 de julho de 2011

Brisa..

"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar."

Grande Caio Fernando Abreu.
Dono de um coração muito semelhante ao meu!